terça-feira, 11 de março de 2014

Quarto escuro

De uma reflexão feita junto à terapeuta a uma resposta a uma anônima leitora.




Quando eu era adolescente diversas sensações eu sentia. Diversas sensações viam-me à mente, pela cabeça. Era estranho, porém, como eu não dividia aquilo com ninguém, imaginava ser comum a todos.

Hoje quando perguntam se foi bom descobrir sobre minha doença, eu acabo refletindo que foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Descobri-la, de certa forma, foi uma oportunidade de me descobrir também. Ora, ela faz parte de mim, inegavelmente. Então, sigamos juntos.

Antes de descobrir que portava o Transtorno Bipolar, digo que a sensação é como se estivesse andando em um quarto escuro cheio de móveis. Um dia eu batia a cara, noutro dia o joelho, noutro o dedo mindinho do pé, entende? Dificilmente eu conseguiria a andar sozinho. Quando descobri a doença, uma luz iluminou o quarto e pude ver meus obstáculos. Daí pude andar com cautela.

Meus obstáculos vivos muitas vezes eram meus pais, amigos, parentes. Minhas relações interpessoais eram péssimas. Na verdade, eu não me conhecia, não me amava e me cobrava demais por isso. Eu era cego para enxergar a um palmo de distância e também, claro, não enxergava o homem naturalmente imperfeito que eu era. Com isso, me cobrava demais. O detalhismo era absurdo. Nossa! quando me lembro vejo o quanto eu me massacrei porque eu realmente não tinha uma luz para me guiar.
 
Talvez você possa estar se questionando o que isso tudo tem a ver com a bipolaridade. A questão é que quando eu abusei de todas as possibilidades morais e éticas que meu ser poderia aceitar, e daí resolvi procurar ajuda médica e psicoterapeuta, consegui, sobretudo na terapia, a enxergar dentro do meu quarto com um pouco mais de luz.
 


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