sábado, 23 de fevereiro de 2013

Lembranças remotas



Outro dia li um texto de Freud, chamado Recordar, repetir e elaborar. Nele vi a importância de trazermos nossas lembranças remotas que durante tempos deixamos escondidas em nosso subconsciente.

Observei durante anos certos comportamentos, mas para quem está imerso num mundo de ignorância completa, aquelas sensações podem ser interpretadas como absolutamente normais. Ou serem interpretadas de diversas outras formas.  Não se enxerga o que não se conhece, imagino eu.

Quando fui a primeira vez a um psiquiatra e ele perguntou: - Em que idade você teve seus primeiros sintomas de bipolaridade? Tive vontade de rir da cara dele. Com a psicóloga foi a mesma coisa. Pensei e respondi. - Sei lá quando foi. Aliás, nem sei se tive isso alguma vez. Como fui tolo.

Com a terapia trazendo a nível consciente, comecei a lembrar de diversas situações. Em algumas delas, estava tão bem com minha família, pai, mãe, irmão, mas de repente me dava um vazio enorme, sentia uma saudade de alguém que eu não sabia quem era e olhava por minutos seguidos pela paisagem da janela. Via os prédios e o céu com suas nuvens a se movimentarem.

Daí eu escrevia loucamente. Adorava poesia e acreditava que aquele meu estado era típico de um jovem pré adolescente que desejava expor seus sentimentos via arte. A fonte de letras com o tempo foi secando e eu não entendia o porquê. Hoje eu entendo.

Demorei muito tempo para descobrir que estava doente. Descobri, inclusive, que estou doente há muito tempo. Meus sintomas começaram a aparecer quando eu tinha cerca de 13, 14 anos. Minha convicção é que todo pai deve levar os filhos à terapia logo cedo, desde 8, 9 anos. Muita coisa pode ser detectada e resolvida a tempo. Muita vida pode ser mudada. Muito potencial pode não ser desperdiçado.


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